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Altruísmo ou autossacrifício ?

Nos relacionamentos, em qualquer contexto (familiar, amoroso, amizades, profissional), é possível haver momentos diante dos quais podemos considerar necessário/importante vivenciar desconfortos em prol do outro. Quando a pessoa consegue se conectar empaticamente à outra é possível sentir satisfação ao ver a satisfação ou o alívio do desconforto do outro.



É possível haver ganhos e fortalecer o relacionamento em médio-longo prazo. Entretanto, há alguns contextos nos quais é possível observar uma relação na qual não há uma reciprocidade. Não há esforço para reconhecer a necessidade e oferecer carinho, cuidado, companheirismo, parceria pelo outro lado. É possível que haja então uma relação de autossacrifício.


De forma objetiva, qual é então a diferença entre altruísmo e autossacrifício?


  1. Altruísmo é uma virtude. Autossacrifício é uma disfuncionalidade.

  2. Em um gesto altruísta se doa tempo, energia e/ou recursos ao outro e se sente de forma imediata bem. Quando há autossacrifício se doa tempo, energia e/ou recursos ao outroeapósháum grande desconforto.

  3. O altruísta sente bem-estar ao observar a satisfação do outro ou o alívio do sofrimentodooutro e não há nenhuma cobrança (interna ou externa) posterior. O sujeito que se autossacrificasente um misto de sentimentos desagradáveis (culpa, tristeza, raiva do outro ou de si mesmo)porque ativa pensamentos do tipo deveria (“Eu não deveria ter feito isso para ele”; “Eledeveriater se esforçado parar arrumar uma alternativa antes de me acionar”; “Eu deveria ter feitoasminhas obrigações. Resolvi o problema dele e estou sobrecarregado.”).

  4. O altruísta não tem como objetivo primário ter ganhos secundários por ser uma pessoa compassiva, mas pode ser que os receba (ex.: receber um elogio, ser convidada para trabalharem parceria, receber um presente, ter uma imagem positiva em um grupo).


A pessoa que se autossacrifica pode entrar e se manter em relações abusivas. Costuma atrair pessoas que não são muito empáticas e que procuram relações instrumentais. As pessoas que se autossacrificam com frequência nos relacionamentos costumam ser pessoas que são muito sensíveis à dor / à necessidade do outro.


Na família de origem houve, em excesso, incentivo ao atendimento das necessidades do outro. É possível que a pessoa tenha vivenciado e guardado em sua memória experiências nas quais cuidou, fez coisas pelo ou para o outro, ao mesmo tempo que deixava de cuidar de aspectos importantes para si.


Portanto, houve momentos nos quais não teve necessidades atendidas, mas era incentivado a olhar e atender a necessidade dos outros. É possível que tenha se sentido invalidado em suas emoções, negligenciado em seus desejos, em diversos momentos.



Além de não ter havido, da parte dos cuidadores, o devido reconhecimento desta dedicação, pode ter vivido durante a infância momentos no quais houve intensa preocupação coma possível má-avaliação do outro.


Outra variável que pode ter influenciado para a pessoa desenvolver um esquema de autossacrifício é a pessoa ter convivido com um familiar que se autossacrificava no dia-a-dia nas relações. Um modelo com quem havia forte conexão afetiva. Em casos mais graves, ter presenciado relações nas quais havia condição de abuso.



A autoestima mais baixa é muito comum nestes casos, quando imperam crenças centrais de desamor (“Eu não sou amável”; “Eu sou indesejável”; “Eu sou defeituoso”...) e/ou de desvalor (“Eu não tenho valor”; “Eu sou um fracasso”; “Eu sou incompetente”...).


Quanto maior intensidade e frequência de ativação do esquema de autossacrifício menor costuma ser a autoestima da pessoa. Quanto mais fortes são as crenças de desamor e desvalor, maior é a probabilidade da pessoa se envolver e perpetuar relações nas quais há abusos (físicos ou emocionais). Se você se identica com estas características é essencial que procure ajuda em psicoterapia para entender melhor por qual motivo você age como age. Um terapeuta comboas com petências clínicas poderá lhe ajudar a mudar de forma gradual estes padrões disfuncionais, para que consiga direcionar mais de sua energia e tempo para seus principais valores, propósitos e expectarivas. Agir de forma mais autêntica, ser mais assertivo, aproximar-se de pessoas mais empáticas, resolver problemas sem criar novos problemas para si, com a intenção melhorar a autoestima e a qualidade das relações.



 

Texto elaborado por: Rafael Thomaz. Pós-doutor em saúde mental pelo IPUB / UFRJ. Diretor da clínica FOCO TCC

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