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#Gratidão

Atualizado: 17 de fev. de 2022

Gratidão é, por um momento, perceber coisas boas que aconteceram ou estão presentes em nossas vidas (acontecimentos, gestos, palavras ou mesmo pequenos detalhes), reconhecê-las, agradecer por termos vivenciado essas experiências e curtir (e talvez compartilhar) a sensação de bem estar proporcionada.

Recentemente recebi a mesma mensagem enviada por dois clientes meus. Enviaram um destes vídeos que "viralizam" na internet e são compartilhados via whatsapp. Era uma psicóloga falando em uma reportagem que explorava o tema gratidão, em programa jornalístico de um canal de tv aberta. Ela disse em um tom firme, segura: "gratidão é mais do que agradecer, é parar de mimimi. Dê valor às coisas que você tem e pare de reclamar!"

Precisamos tomar cuidado com visões simplistas demais (ou mesmo deturpadas) a respeito da gratidão. Não é adequado exigir que as pessoas sejam gratas o tempo todo em todos os contextos.Afinal, há momentos em que podemos estar diante de uma condição de injustiça, desigualdade, abuso, opressão ou violência. Diante de situações como estas será necessário implementar ações visando reduzir os danos ou resolver o problema. Quando nos deparamos com adversidades como estas, outras virtudes, como por exemplo, senso de justiça, capacidade de perspectiva, bondade e coragem podem nos orientar a ações mais adequadas. Assim, questionar, reclamar e se mobilizar não são necessariamente atitudes disfuncionais.


É comum vermos alguns profissionais orientarem a praticar a gratidão, mas não detalharem como. Ativar pensamentos muito abstratos e abrangentes podem não proporcionar os efeitos benéficos apontados em pesquisas sobre o exercício da gratidão. O prof. Dr. Martin Seligman apontou que é possível ter efeitos benéficos com o exercício da gratidão registrando em um diário, com detalhes, três coisas boas que aconteceram ao longo do dia ou que percebe que estão presentes em sua vida (bençãos).


Por exemplo:

Ao invés de falar "sou grato por ter saúde", dizer "sou grato porque hoje me senti muito bem. Bem disposto, pude sair para caminhar ao ar livre, tomei banho de Sol e curti uma bela paisagem."


Ao invés de escrever "Agradeço por ter comida", colocar "Agradeço por ter saboreado um belo prato de tal coisa no almoço, ao mesmo tempo em que tive uma agradável e divertida conversa com Fulano."


Desta maneira, o exercício da gratidão nos faz reviver internamente o momento agradável. Nosso corpo ativa respostas fisiológicas e emocionais de forma semelhante, como se estivéssemos lá novamente. E mais, tenderemos a armazenar mais e melhor na memória os momentos bons.


Ao reconhecer acontecimentos, gestos, palavras agradáveis no cotidiano nosso cérebro pode reagir, aumentando a liberação de dopamina — neurotransmissor que proporciona sensação de bem-estar e prazer. Desta forma, podemos dizer que a gratidão é um "antidepressivo natural".


Outro possível efeito positivo que podemos ter com o exercício da gratidão é o maior direcionamento para perceber mais frequentemente as “coisas boas” no contexto presente. Isso acontece em função do efeito Tetris, muito bem descrito pelo prof. Dr. Shawn Achor.


Foi realizado um experimento: um grupo de pessoas foi convidado a jogar o jogo Tetris por várias horas, todos os dias, ao longo de uma semana. Após este período, na reavaliação, os participantes começaram a relatar que estavam vendo o mundo em formas geométricas: janelas dos prédios como peças de Tetris, carros se encaixando nas vagas de garagem. Isso acontece em função de processo chamado de imagem residual cognitiva. Ou seja, se você "alimentar" seu cérebro com determinadas informações, haverá uma tendência de seu cérebro seguir esses padrões de visão de mundo, influenciando o conteúdo dos pensamentos e até dos sonhos.


As pessoas que têm um modo de pensar pessimista tendem a ativar com frequência a distorção cognitiva abstração seletiva (ou visão em foco). Elas observam um contexto e tendem a selecionar apenas as falhas/imperfeições/erros, mesmo que haja no contexto como um todo muitos sucessos/belezas/acertos.


Há ainda outro possível ganho com o exercício da gratidão. A externalização do contentamento pode interferir na forma como conduzimos nossas atitudes na interação com os outros. Podemos ser avaliados mais frequentemente como sendo agradáveis e nos tornar mais abertos a viver novas experiências. Assim, a gratidão pode favorecer para que haja o estabelecimento e a manutenção de relações afetivas mais saudáveis.

 

Texto elaborado pelo Psicólogo clínico e pesquisador Dr. Rafael Thomaz

 

Referências:


  • Seligman, M. (1991). Aprenda a ser otimista: como mudar sua mente e sua vida. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva.

  • Achor, S. (2019). O jeito Harvard de ser feliz. Rio de Janeiro, RJ : Saraiva.



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