top of page
Foto do escritorFoco TCC

Dúvidas comuns que os pais costumam apresentar em suas sessões de terapia 


Em terapia muitas vezes observamos os pacientes adultos angustiados, narrando situações adversas envolvendo os filhos. 



Muitos não conseguem compreender o que talvez tenham feito que pode ter influenciado para aquele comportamento indesejável da criança. Outros ainda tentam  culpar, responsabilizar o outro, o mundo, pelas atitudes expressas. Muitos pais se sentem desorientados, não sabem por onde começar para se informar e para tentar reduzir os problemas que afetam as relações afetivas dos filhos com os outros.


Uma boa terapeuta infantil pode, claro, realizar um bom trabalho de psicoeducação e incentivar ações em consonância com a  disciplina positiva, visando melhorar a capacidade de regulação emocional. Entretanto, não é incomum queixas envolvendo a relação com os filhos aparecerem nas sessões individuais dos pacientes adultos. Nestes casos o terapeuta pode favorecer a reflexão e passar algumas orientações.


Como é possível favorecer a construção de relações afetivas saudáveis e uma maior autonomia responsável dos filhos?


De acordo com a Terapia do Esquema, concebida pelo psicoterapeuta norte-americano Jeffrey Young, á necessidades emocionais básicas que são cruciais de serem atendidas através de vínculos saudáveis para a saúde psíquica.


São demandas fundamentais desde a infância, tendo os cuidadores como principais provedores, e ganham relevância ao longo da vida com os relacionamentos interpessoais.


Quando essas necessidades não são atendidas de forma equilibrada, podem surgir os esquemas desadaptativos, resultando na ativação automática a e disfuncional de padrões comportamentais e emocionais. disfuncionais, que trazem  prejuízos significativos à vida do sujeito .


Portanto, um ambiente familiar harmonioso, no qual há expressões de amor, especialmente na infância, é crucial para favorecer o desenvolvimento de esquemas adaptativos, permitindo que os indivíduos enfrentem situações adversas de maneira mais funcional, com melhor capacidade de regulação emocional.


São as necessidades emocionais básicas: aceitação / conexão; autonomia / competência;  limites realistas;  liberdade de expressão e emoções válidas; espontaneidade / lazer. Tentar suprir estas necessidades de forma adequada é essencial para promover o desenvolvimento psíquico saudável, permitindo que as pessoas enfrentem desafios com maior equilíbrio, vivam experiências mais satisfatórias e construam relacionamentos interpessoais saudáveis.


Qual é a importância de haver mais aceitação e conexão?


Crianças precisam se sentir acolhidas, protegidas, quando se sentem vulneráveis. Obviamente que, quanto menor é a criança maior será a prontidão para acolher. Sentir-se aceita e acolhida afetivamente quando se sente vulnerável é importante para que não se vivencie com frequência a sensação de rejeição, desconexão, abandono.



Quando a família de origem oferece experiências que a criança armazena em sua memória primitiva como sendo experiencias de desconexão / rejeição, ao se tornar adulto o indivíduo terá propensão a se sentir abandonado, menosprezado, desconectado, perceber a si mesmo como um ser não amável, defeituoso, ou mesmo ser alguém com enorme e inapropriada desconfiança dos outros.



 

Qual é a importância do incentivo à autonomia e à valorização das competências?


Para que a criança consiga ativar o modo adulto saudável ao crescer é importante que a mesma consiga reconhecer e valorizar suas próprias habilidades e competências. De forma apropriada a cada fase de seu crescimento e com suporte adequado a criança pode ser incentivada a criar expectativas, fazer escolhas por si, se arriscar. Com isso, mais facilmente irão conseguir desenvolver uma autoidentidade, buscar a independência, enfrentando desafios e realizando expectativas.


Quando há por parte dos cuidadores vigilância, cuidados excessivos, gestos e palavras de desincentivo, muito provavelmente a criança se tornará um adulto dependente, percebendo a si mesmo como sendo incapaz de lidar com as adversidades. Pode ter crenças de desvalor como: sou incapaz, um fracasso, uma farsa. Pode também haver um constatnte receio de que algo ruim irá acontecer e se perceber como um ser frágil. Buscar reasseguramentos e delegar para o outro a tomada de decisão com frequência também são comportamentos possíveis neste cenário. 


Qual é a importância de oferecer limites adequados?


É essencial que as pessoas aprendam desde cedo que existem limites, regras, acordos a serem respeitados. Colocar no lugar do outro, entender as consequências dos atos no mundo, especialmente em médio e longo prazo, favorece o desenvolvimento da empatia, a prudência e a capacidade de atingir metas em médio/longo prazo.


Não se trata aqui de uma rigidez em demasia, de criar um ambiente hostil no qual se respeita em função do medo. Ouvir o não é imponte, mas sempre que possível fazer entender o por quê não. 


Vivenciar e desenvolver a tolerância ao tédio, ao desconforto, à frustração é crucial para que o indivíduo não se entregue a uma busca desenfreada por prazeres momentâneos, que podem se tornar compulsões que geram enormes transtornos que afetam a vida do sujeito e de seus próximos.


Famílias muito permissivas, ausentes, com excesso de tolerância ou com falta de regras/orientação, levam a criança a se tornar um indivíduo com baixa capacidade de autocontrole e autodisciplina. No caso, pode se tornar uma pessoa que prioriza de forma imediata/reativa, mesmo que seja de uma forma inadequada, a busca da própria satisfação ou o alívio do próprio desconforto. Pode ainda se tornar um adulto arrogante, muito egocêntrico, que não considera as possíveis consequências negativas de seus atos aos outros, não respeita as possíveis regras ou o espaço dos outros.




Qual é a importância de incentivar a liberdade de expressão das emoções e validar as mesmas?


Crianças precisam ser incentivadas  a entrarem em contato e expressarem o que sentem. Contudo é crucial que as mesmas sejam acolhidas, que tenham suas emoções validadas, havendo por parte dos cuidadores respostas emocionais em sintonia.   

Os pais podem demonstrar que entendem o que a criança está sentindo, por qual motivo sentem o que sentem. 


Conseguir guiar a criança para que a mesma entre em contato, nomeie, fique em contato com e lide com suas emoções de valência negativa, faz com que a criança confie mais em sua capacidade de lidar com as suas próprias emoções.


Ao crescer em uma família na qual se entende expressar o que se sente e se pensa é algo ruim, algo que pode ser duramente repreendido ou ser usado contra a pessoa, o indivíduo pode se tornar alguém que se preocupa em excesso com a possível possível má avaliação dos outros, podendo não agir de maneira autêntica ou mesmo chegar ao ponto de se render de modo excessivo ao controle dos outros, em detrimento das próprias necessidades.





Qual é a importância de favorecer a espontaneidade e o lazer?


Claro que é necessário tentar cumprir com os compromissos assumidos, entretanto, momentos de felicidade e bem-estar, contextos que oferecem as experiências de relaxamento, descontração, leves interações sociais... são essenciais para a saúde mental.


Quando a criança está em um ambiente no qual não há um tempo reservado para curtir sensações agradáveis, quando há cuidadores que cobram e criticam excessivamente, é muito provável que esta se torne um adulto com padrão excessivo de cobrança, que se autorrecrimina em excesso, mais pessimista, com dificuldade para expressar as próprias emoções. Pode se tornar um sujeito perfeccionista, apreensivo, preocupado,... podendo transpor ou não na relação com os outros o seu elevado padrão de cobrança.



Há mais alguma dica do que mais poderia ser feito pelos pais em prol da melhora da autoestima e da boa capacidade de regulação emocional dos filhos?


Se formos considerar ensinamentos disponíveis em pesquisas da psicologia positiva, bons pais seriam aqueles que conseguem identificar, incentivar o desenvolvimento e favorecer a expressão das principais forças, virtudes e competências de seus filhos.

É muito valioso também que os pais cuidem sua própria saúde mental, dado que são modelos extremamente relevantes para seus filhos. 


É essencial também que haja no dia a dia práticas de compaixão e de autocompaixão. Interessante observar que quando os pais conseguem expor a própria vulnerabilidade para a criança, expondo de forma adequada seus sentimentos desagradáveis ou pedindo perdão por um erro  cometido, isso costuma reforçar a relação afetiva entre pais e filhos e deixa os filhos mais propensos a expressarem o que sentem e pensam.



Outro aspecto relevante é evitar ficar apenas vigilante rastreando comportamentos indesejáveis no intuito de reprimir os mesmos. É possível observar e implementar ações que reforçam os comportamentos desejáveis, aumentando a frequência dos mesmos. Assim será mais provável que haja um ambiente familiar com mais momentos de bem-estar. 


É muito importante que entendamos o contexto de nossa sociedade atual. Os pais nunca foram tão bombardeados de informações e cobranças sobre como deveriam agir para serem “bons pais” como nesta época na qual vivemos. 


Evitar os pensamentos tudo ou nada é crucial. Nem pensar que tenho que dar conta de tudo - deveria fazer mais ... tão pouco pensar que já que tenho muitas outras obrigações, deixe eu me alienar um pouco e não me cobrar com estas responsabilidades.


Os pais podem tentar entender se houve erros, podem tentar reparar danos e podem tentar não cometer os mesmos erros novamente.  Contudo, é essencial que se entenda que todos cuidadores/educadores irão cometer falhas em algum momento, porque ninguém é perfeito. Bons pais valorizam seus acertos e, quando erram, erram tentando acertar.




 

Texto elaborado por:


Rafael Thomaz

Pós-Doutor em saúde mental. 

Terapeuta cognitivo-comportamental, professor e pesquisador.


Referências:

Gilbert, Paul. (2020). Terapia Focada na Compaixão. São Paulo, SP: Hogrefe.

Niemic, R. (2017). Intervenções com forças de caráter. Associação Latino Americana de Psicologia Positiva. São Paulo: Hogrefe.

Nolêto, P. (2021). Filhos em construção: as necessidades da criança pela teoria do esquema. São Paulo, SP. Literare Books.

Young, J; Klosko, J.; Weishaar, M. (2008). Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais. Porto Alegre: Artmed.


22 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


whatsapp-logo-icone-1-1.png
bottom of page