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Como lidar com as preocupações?

Atualizado: 17 de fev. de 2022

Preocupar-se é se ocupar mentalmente com algo que ainda não aconteceu. Por definição, pode ser uma tentativa de prevenção ou uma ideia fixa de que algo ruim irá acontecer, ativando sentimentos desagradáveis e um estado de alerta.

Para entender e tentar lidar de forma adequada com as preocupações, a leitura do livro “Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas paralisem você” (Leahy, 2007) é um bom começo. Neste livro Robert Leahy coloca que, ao nos deparar com uma preocupação, podemos seguir por três caminhos: 1) preocupação produtiva; 2) preocupação improdutiva; 3) esquiva emocional.

1) Quando estamos diante de uma preocupação produtiva questionamos um problema ou uma situação real. Podemos apresentar fatos que comprovam que estes existem no momento presente e até compartilhar nossa percepção (Exemplos: o aumento da violência no seu bairro, o risco de se contaminar com covid-19). Neste caso, costumamos trabalhar em terapia com estratégias de resolução de problemas: focar no momento presente, pensar em um problema por vez, escolher alternativas que pareçam ser viáveis para reduzir os danos ou resolver o problema, implementar a ação e acompanhar as consequências.

2) Entretanto, quando estamos lidando com uma preocupação improdutiva estamos diante de problemas imaginados. Pessoas consideradas mais ansiosas ativam com frequência, de forma inapropriada e em diversos contextos, pensamentos do tipo “e se... algo ruim”, emendando em uma série de outros pensamentos “e se... outro algo ruim”. Neste caso, mentalmente se colocam neste lugar ameaçador, já que nosso cérebro não diferencia o que é real do que é imaginado. Em fusão com nosso pensamento, emoções e reações fisiológicas são ativadas como se estivéssemos na realidade em uma situação ameaçadora.

Então, atenção: o primeiro pensamento “e se...” pode até ser uma prevenção, mas do segundo “e se...” em diante é cada menos provável que o pensamento venha a se concretizar.


Portanto, pessoas que lidam de forma improdutiva com a preocupação ruminam pensamentos invasivos do tipo “e se...”, que atrapalham a conexão com o momento presente, e criam nelas a tendência a não agir, já que ficam muito tempo buscando “soluções perfeitas” (que não existem) para terem controle/certezas de que nada de ruim irá acontecer.


Algumas crenças comuns de “pessoas ansiosas” são as ideias de que: vai ser terrível se algo não acontecer como eu gostaria; se é possível, então é provável; se é ameaçador eu tenho que pensar o tempo todo nisto; eu devo ter controle sobre todas as variáveis para ter certeza de que vai acontecer como eu gostaria.

Há uma série de estratégias e intervenções da terapia cognitivo-comportamental para se aplicar para reduzir nosso gasto de tempo e energia com estes pensamentos invasivos, que são ameaças imaginadas: psicoeducação, aceitação, questionamento de pensamentos disfuncionais, desfusão cognitiva, debate de crenças, dessensibilização sistemática - com exposição imaginária ou real, experimentos comportamentais, atividades contemplativas/mindfullness. O terapeuta precisa estar bem treinado para fazer as escolhas adequadas e aplicar a(s) estratégia(s) que favorecerá(ão) a regulação emocional. Por esta razão, é muito importante fazer uma boa avaliação e conceitualização do caso, para entender o modo de funcionamento do cliente.

3) No caso de pessoas mais impulsivas, é mais comum a ativação da esquiva emocional diante do desconforto gerado por uma preocupação. Acontece da seguinte forma: a preocupação ativa um sentimento desconfortável; a pessoa tende a buscar de forma automática um alívio momentâneo, sem levar em consideração possíveis consequências em médio e longo prazo (ex. ativa compulsões, fica paralisado); depois de “sedar” o próprio cérebro com a liberação de neurotransmissores como serotonina e dopamina, irá, inevitavelmente se deparar com o problema de novo.

Diversas estratégias que visam desenvolver autoconhecimento, automonitoria e o controle dos impulsos podem ser aplicadas para reduzir os danos na vida da pessoa.

Uma pergunta interessante é: O que é pior, a preocupação improdutiva ou a esquiva emocional? Depende da gravidade, frequência, duração e intensidade dos pensamentos invasivos e repetitivos (preocupação improdutiva) e das compulsões (esquiva emocional). Afinal, a pessoa que ativa a esquiva emocional pode até ter um alívio momentâneo do desconforto, mas depois pode se deparar com dois problemas ao invés de um: a preocupação primeira e as consequências ruins de ter ativado a compulsão.

Acredito que eu tenha proporcionado aqui uma reflexão, porém o assunto é complexo. Busque constantemente se atualizar na prática clínica. Estudar e treinar sob supervisão o que é o mais recomendável para cada queixa. É ético oferecer o que há de melhor para nossos clientes. Realizar nossos atendimentos com a aplicação de estratégias/intervenções que são eficazes e efetivas.


 

Texto elaborado por: Dr. Rafael Thomaz. Psicólogo clínico e pesquisador.

 

Referência:


Leahy, R. (2007). Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas paralisem você. Porto Alegre: Artmed.

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