A supervisão clínica é amplamente reconhecida como um método crucial para o desenvolvimento da competência do terapeuta, englobando conhecimento, habilidades e atitudes.
O foco principal da supervisão é orientar o terapeuta cognitivo-comportamental no desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades psicoterapêuticas baseando-se na ética, na qualidade da intervenção e, principalmente, com base em evidências científicas.
A supervisão, sob a orientação de um profissional experiente e qualificado, oferece ao terapeuta a possibilidade de aprimorar suas habilidades e competências técnicas para a prática profissional. Visa promover autonomia, otimizar o repertório profissional para o atendimento clínico, o desenvolvimento do raciocínio clínico, a tomada de decisões, a avaliação e aprimoramento de intervenções terapêuticas, com foco na segurança e melhoria da qualidade do tratamento psicoterapêutico.
Durante a supervisão o aprendizado de competências clínicas se dá por meio de metodologias experienciais e educativas, fundamentadas no empirismo colaborativo entre o supervisor e o terapeuta. Essa aprendizagem é facilitada por intermédio de estratégias educativas diversas, como leituras, psicoeducação, estudo de caso, conceitualizações, role-play, feedback, descoberta guiada, questionamento socrático, a autoprática, a autorreflexão, entre outras.
A prática da autorreflexão, por exemplo, se apresenta como uma ferramenta valiosa para melhorar o desenvolvimento de habilidades clínicas. Podendo auxiliar o terapeuta na melhor compreensão de suas emoções durante os atendimentos, contribuindo na tomada de decisões mais conscientes e adequadas. Além disso, a autorreflexão permite ao terapeuta diferenciar suas necessidades das dos clientes. Bem como aprender a reconhecer e lidar com a transferência e contratransferência no contexto clínico da TCC. Treinar a autorreflexão também contribui com o desenvolvimento do pensamento crítico e para a tomada de decisões éticas do terapeuta, permitindo-lhe reconhecer desconfortos e prevenir impactos negativos nos clientes.
Além do exposto, a supervisão também foca no cuidado com o terapeuta, proporcionando um espaço seguro e importante para o suporte emocional e saúde mental do profissional. Esse cuidado não só contribui para um ambiente de trabalho saudável, mas também para a manutenção do bem-estar ao lidar com casos clínicos desafiadores.
Vale ressaltar a importância de se atentar à qualificação (treinamento, experiência e expertise) do supervisor escolhido, uma vez que supervisões inadequadas ou prejudiciais podem gerar consequências danosas ao terapeuta e ao paciente. O supervisor desempenha o papel de monitorar a qualidade do serviço prestado, orientar e avaliar, a fim de proteger e resguardar o paciente, garantindo sua segurança e evitando prejuízos ou intervenções danosas. Além de, alertar os terapeutas sobre possíveis efeitos nocivos do tratamento psicoterápico, visando prevenir danos e potencializar a qualidade das intervenções realizadas.
Benefícios da supervisão:
Desenvolvimento de habilidades terapêuticas em diversas áreas, incluindo teórica, técnica, interpessoal e de autoconhecimento;
Auxílio em uma melhor compreensão dos casos, através do desenvolvimento da conceituação e do plano de tratamento, resultando em melhores resultados terapêuticos;
Favorecimento do raciocínio clínico, estimulando o pensamento crítico e criativo (ter flexibilidade sem comprometer a fidelidade ao modelo psicoterapêutico da TCC);
Desenvolvimento de flexibilidade e capacidade para lidar com situações inesperadas nas sessões;
Contribuição para o aumento do senso de autoeficácia, promovendo assim o desenvolvimento da autonomia clínica;
Aprendizagem de diversas estratégias como de autoprática e autorreflexão para manejo de desafios na relação terapêutica;
Promoção do cuidado e bem-estar, prevenindo o burnout profissional e incentivando o autocuidado;
Avaliações e feedbacks sobre o desempenho e o desenvolvimento de suas competências profissionais;
Maior confiança e preparado para os atendimentos;
Realizar sessões com resultados mais significativos, proporcionando melhora nos resultados do tratamento e no bem-estar dos pacientes.
Ao investir na supervisão clínica com supervisores qualificados, os terapeutas cognitivos-comportamentais desenvolvem sua expertise, fortalecem sua base profissional, aumentam sua confiança e competência e mantêm-se atualizados em sua prática clínica. A supervisão é um pilar indispensável para que terapeutas possam desenvolver e fortalecer habilidades essenciais que garantam a qualidade do seu trabalho.
O processo de supervisão proporciona ao terapeuta um espaço de aprendizado e reflexão crítica sobre sua prática terapêutica, onde o terapeuta pode refletir sobre suas ações, obter melhor compreensão sobre elas, e, a partir disso, aprimorá-las. Promovendo uma prática mais ética e responsável, beneficiando os clientes ao garantir um atendimento baseado em evidências, focado sempre na melhora da qualidade do atendimento psicoterapêutico oferecido.
Texto elaborado por: Talia Fernandes Lopes. Psicóloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trainee do Instituto Carioca de TCC - FOCO.
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