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Dor Crônica


A dor é um fenômeno muito associado à percepção de desconforto físico, mas também é um fenômeno psicológico. Seja pelo fato da experiência da dor ser uma fonte de estresse emocional para a pessoa com dor crônica ou porque a dor possui um importante caráter subjetivo. Isto é, cada indivíduo vivencia a dor de maneira pessoal.


É possível falar em mais de um “tipo de dor”? Com certeza. A dor é, antes de qualquer coisa, um mecanismo de proteção do organismo. Se não sentíssemos dor seria muito mais difícil evitar eventos traumáticos que colocam nossas vidas em risco. Diferente, portanto, das dores agudas que estamos sujeitos no cotidiano, a dor crônica é, por definição, uma forma de dor contínua ou recorrente que perdura por mais de 3 meses e pode trazer muitos prejuízos à qualidade de vida do indivíduo.



Embora as origens da dor crônica sejam diversas, as mais comuns estão associadas a dores na região lombar e no pescoço, enxaqueca, neuropatias, fibromialgia, dor pós-intervenção cirúrgica e dor em pacientes oncológicos. No Brasil, aproximadamente 37% da população afirma sofrer com algum tipo de dor crônica. Isso significa que mais de 70 milhões de pessoas convivem com dores que podem representar limitações importantes à qualidade de vida. Ter de lidar com um desconforto, independentemente de sua intensidade, comumente gera respostas emocionais de raiva, tristeza e frustração para a pessoa que sofre com dor.

Neste caso, os médicos podem ajudar essas pessoas com tratamento medicamentoso e, em casos muito específicos, com procedimento cirúrgico para aliviar a dor em sua dimensão física. Mas é importante ressaltar que o tratamento da dor crônica é bem mais amplo e pode incluir hábitos de vida saudáveis (atividades físicas regulares, higiene do sono e alimentação), acompanhamento fisioterápico quando necessário, atividades de relaxamento e manejo do estresse.

Os psicólogos exercem papel crucial para ajudar quem convive com dor crônica a lidar com os aspectos cognitivos e emocionais da dor. Auxiliar o indivíduo a compreender que a dor não é apenas uma reação física a uma lesão, mas que ela sofre influência da maneira como pensamos e sentimos é um passo muito importante na melhora do quadro. Assim, estados alterados de humor e ansiedade podem influenciar muito na percepção do indivíduo sobre seus sentimentos e ações. Por exemplo, níveis mais elevados de ansiedade e estresse aumentam a chance de pensamentos catastróficos e preocupação com desfechos negativos. Já pessoas com humor deprimido tendem a focar mais em pensamentos negativos e pessimistas. Assim, indivíduos que estejam mais ansiosos que o normal podem hipervalorizar quaisquer sensações corporais e associá-las com o histórico de dores constantes, interpretando tais sinais como sendo questões mais graves do que realmente são.


No tratamento psicoterápico com dor crônica, a Terapia Cognitivo-Comportamental é a abordagem que apresenta melhores resultados. O terapeuta cognitivo tem como objetivo primário compreender o modelo cognitivo do paciente, isto é, quais padrões de interpretação que o indivíduo faz de cada situação e quais as consequências emocionais, comportamentais e fisiológicas observadas. Por exemplo, imagine que uma pessoa esteja sofrendo com graves dores de coluna. É possível que ele tenha pensamentos: “Não sei se vou suportar essa dor por muito tempo.”; “Ela está destruindo a minha vida.”; “É melhor eu não sair de casa, pois a dor pode piorar”. Esses pensamentos geram constante estado de estresse e ansiedade que, por sua vez, contribuem para liberação de neurotransmissores associados a dor. Por fim, é possível que esta pessoa que sente dor adote estratégias comportamentais para inadequadas para lidar com as dores na coluna: evitar a prática de atividades físicas com medo de que as dores piorem, consumo de medicamentos sem orientação médica para alívio momentâneo do desconforto, ingerir substâncias que aumentem a sensação de bem-estar momentâneo e que trazem consequências negativas para a dor (cafeína, álcool, tabaco).




De modo geral, o tratamento psicológico para a dor crônica deve ajudar a pessoa que sente a dor nos seguintes aspectos:

Aceitação: é compreensível que sentir dor constantemente seja algo desagradável e, muitas vezes, incapacitante. No entanto, tentar ignorar o sofrimento ou se esquivar de ações que tendem a melhorar o quadro só prolongarão mais o sofrimento. Aceitar o problema e assumir uma postura mais ativa no tratamento facilitará com que a pessoa se torne mais informado sobre o problema e mais consciente das atitudes e pensamentos que podem ser mais favoráveis e quais não ajudam;

Identificar e modificar pensamentos e comportamentos: ter consciência e autonomia para identificar e reestruturar pensamentos distorcidos, assim como reconhecer quais comportamentos são inadequados é um passo importantes no autoconhecimento de todos nós. Para a pessoa com dor crônica esse processo será estratégico para que ele evite “cair em armadilhas” que só cronificam mais e mais seu desconforto.

Falar sobre a dor: saber expressar o que se está sentindo é muito importante. Ajuda com o processo de aceitação daquele sofrimento, mas principalmente porque aumenta as chances de ter suas emoções compreendidas e mitigar possíveis conflitos e estressores interpessoais.

Práticas de relaxamento: é importante que o terapeuta ensine estratégias de relaxamento, já que isso é uma ferramenta poderosa para a redução das tensões musculares, da ansiedade e estresse.

Distrair-se da dor: normalmente as pessoas se preocupam com as dores e tendem a focar demasiadamente nas sensações desconfortáveis. Isso pode estimular o aumento da sensação de dor. A terapia também terá como objetivo ensinar técnicas para redirecionar o foco para outros estímulos que não a dor.

Exposição a situações “desafiadoras”: ao longo do tempo, é possível que o a pessoa que sente dor acabe adotando novas rotinas que diminuam a sensação de risco de piora da dor. Sabemos agora que ampliar as limitações ao indivíduo não favorece em nada a sua melhora.


A dor é um problema com o qual o ser humano sempre precisou conviver. No entanto, cada vez mais os hábitos de vida contemporâneos favorecem para que mais e mais as pessoas desenvolvam dores crônicas. Este é um problema importante, pois causa transtornos há milhões de pessoas. Todavia, felizmente cada vez mais novos tratamentos são desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com dor crônica e a psicoterapia tem papel fundamental nesse processo. Ajudar essas pessoas que tanto sofrem com dor a compreender a relação entre pensamentos distorcidos, emoções e comportamentos é fundamental para que elas se libertem da dor.



 

Referências:

American Psychological Association. (2011, January 1). Coping with chronic pain. Disponível em: https://www.apa.org/topics/pain/chronic.

American Psychological Association. (2013, December 15). Managing chronic pain: How psychologists can help with pain management. Disponível em: https://www.apa.org/topics/pain/management.

Hadjistavropoulos, T., & Craig, K. D. (2004). Pain: psychological perspectives. Londres: Psychology Press.

Penido, M. A., & Dias, T. R. S. (2019). Fibromialgia. Em Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. (pp. 234-244). Novo Hamburgo: Sinopsys.


Texto elaborado por:

Vitor Hugo Costa. Psicólogo clínico. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental. Mestre em Psicologia Clínica (PUC-Rio).




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