Muito tem se falado ultimamente sobre empatia. Empatia é a base para o estabelecimento e manutenção de relações afetivas saudáveis. Além disso, é essencial para que haja um padrão de comportamento ético na convivência em grupo. Para fazer a escolha por soluções que causam o mínimo de danos possível para todos envolvidos em um conflito é essencial que a empatia esteja ativada.
Empatia é se conectar e compartilhar por um momento, dentro um contexto específico, com o sentimento da outra pessoa. Quando se é empático há uma compreensão dos sentimentos do outro e a adoção da perspectiva dele. Há um respeito às possíveis diferenças sobre o modo como a outra pessoa interpreta o contexto em observação.
A profa. Dra. Brené Brown, especialista em conexão humana, coloca que é comum as pessoas confundirem empatia com simpatia. Simpatia é um contato superficial com o que o outro sente e pensa. A pessoa para parecer simpática diante uma pessoa que está sofrendo pode, por exemplo, sorrir e dizer: “fique tranquilo, tudo vai se ajeitar... pelo menos você tem tal coisa boa em sua vida...”
Empatia vai muito além, envolve maior presença, mais escuta e alimenta uma conexão autêntica.
O prof. Dr. Daniel Goleman, autor de inteligência emocional, apresenta diversas evidências científicas de que nós nascemos capazes de sermos empáticos e podemos nos tornar não empáticos com o passar do tempo. Um bebê demonstra empatia a partir de 8 meses. Antes de completar um ano de idade o ser humano é capaz de demonstrar carinho a quando percebe que um adulto ou criança está triste ou se machucou.
É possível auxiliar a criança a desenvolver a capacidade empática: havendo ao redor modelos de pessoas que demonstrem empatia em suas relações, oferecendo consequências satisfatórias (carinho, elogios ou prêmios) quando a criança age de forma adequada na convivência com os outros e incentivando para que a mesma identifique, nomeie e expresse os próprios sentimentos.
Ao longo de toda vida, conviver com pessoas mais empáticas, envolver-se com atividades/projetos assitencialistas e inserir na rotina práticas contemplativas que favoreçam a atenção plena no momento presente, irão favorecer para fortalecer e expressar mais a empatia no dia a dia.
O renomado prof. Dr. Paul Ekman descreve 3 tipos de empatia:
A empatia cognitiva - neste caso se entende (de forma mais “fria”/racional) o que a outra pessoa sente e porquê sente o que sente. A pessoa se coloca mentalmente no lugar da outra e entende qual é o contexto, o que se passa naquele momento e o que a mesma está pensando.
A empatia emocional - acontece quando, além do entendimento da forma de pensar, nós sentimos, e até mesmo expressamos de forma automática sensações físicas, as emoções das outras pessoas, como se essas sentimentos fossem “contagiosos”.
A empatia compassiva - quando ativada, nós não só entendemos e sentimos o que o outro está pensando e sentindo, mas também agimos, ajudamos. Como diz o prof. Dr. Daniel Golleman, a compaixão seria o estágio ultimo da empatia. Neste caso a pessoa se sente impelida a emitir uma ação que irá favorecer para aliviar o desconforto da outra pessoa.
Para uma pessoa ser considerada acolhedora / empática em uma interação são necessárias três etapas: perceber o que o outro está sentindo, sentir dentro de si por um momento o sentimento de forma semelhante (tipo e intensidade do sentimento) e devolver de forma adequada.
1 - Perceber o que o outro está sentindo:
Quando possível escolher um contexto adequado e seguro para favorecer que o outro expresse o que sente e pensa. É importante o esforço para voltar todos os sentidos ao momento presente e prestar atenção aos detalhes durante a comunicação: expressões faciais, tom de voz, pausas, mudança no padrão de respiração, o olhar, ...
É essencial tentar não julgar e demonstrar real interesse na outra pessoa. Pode ajudar a perceber o que outro está sentindo: 1 - fazer perguntas que ajudem a identificar de forma mais específica o que o outro sente (nomear o sentimento); 2- perguntar qual é a intensidade do sentimento e há quanto tempo se sente assim; 3- aprofundar o entendimento a respeito do contexto e se a pessoa entende por quê esse sentimento está presente naquele momento; 4- investigar o que o sujeito pensa diante de tudo isso; 5- devolver ao outro o que entendeu a respeito do que foi expressado, para que o outro possa acrescentar ou corrigir algo; 6- perguntar a respeito do que já fez, pensa ou já pensou em fazer diante disso.
Exemplos não propositais de comportamento não empático:
Uma pessoa com espectro autista, por ter menos células neurônio espelho, apresenta maior dificuldade para perceber o que o outro sente, especialmente pela linguagem não verbal.
É comum, no senso comum, as pessoas associarem a falta de empatia aos sociopatas, porque estes tendem a ser manipuladores e não demonstram ter ressentimento quando causam algum dano às pessoas. Entretanto, uma pessoa com traços ansiosos da personalidade pode não conseguir perceber o que o outro está sentindo simplesmente porque, em um determinado momento, avalia internamente que está diante de uma ameaça. Quando isso acontece, com o circuito do medo ativado no cérebro, tudo o que a pessoa ansiosa deseja é se livrar de seu próprio desconforto a qualquer custo. Em estado de alerta, sua mente está focada em rastrear argumentos e ações que o façam se livrar da tal ameaça o mais rápido possível e, desta forma, não é possível perceber o que o outro está sentindo.
2 - Sentir por um momento o que o outro está sentindo:
Ao entender e se conectar com o sentimento do outro, é importante permitir a si mesmo, por um momento, experienciar o sentimento do outro internamente (seja este agradável ou não).
Exemplo não proposital de comportamento não empático:
Uma pessoa que vivenciou no passado situações interpretadas e armazenadas como sendo experiências de desconexão ou rejeição pode, de forma não consciente, evitar entrar em contato com os sentimentos desagradáveis do outro. Ao ouvir uma história sobre uma situação adversa contada pelo interlocutor, a pessoa pode: desconversar, ativar um discurso visando minimizar o problema do outro ou sugerir de imediato ações para resolver o problema (sem antes ser acolhedor ou considerar a perspectiva do outro). Desta maneira a pessoa (não acolhedora) de forma instintiva evita o contato com o sentimento desagradável do outro. Esta pode não entender, de forma lógica racional, porquê não consegue estreitar um laço afetivo ou porquê passou a ser mal avaliado, visto que esta pessoa acredita verdadeiramente que algo que seria o melhor para a outra naquele contexto.
3 - Devolver de forma adequada:
Ao sentir o que o outro sente de forma semelhante, automaticamente as nossas expressões faciais, o tom de voz, a velocidade da fala, ... tenderão a se moldar a este sentimento sentido.
A interação social é dinâmica. Nossas respostas emocional, fisiológicas e comportamental dependem das informações que vão sendo passadas pelo outro durante a comunicação. Demonstrar real interesse e aprofundar o conhecimento a respeito do que o outro está vivenciando já é parte importante desta devolução adequada em uma comunicação empática. Além disso, precisamos considerar que haverá momentos em que até mesmo ficar em silêncio poderá ser uma escolha adequada.
Se for falar, pode fazer pontuações interessantes a respeito do que foi dito, elaborar perguntas que instiguem a pessoa buscar novos insights, apontar argumentos interessantes pelo seu próprio ponto de vista, citar experiências vividas por ti ou mesmo sugerir ações para que outro avalie aspectos positivos ou negativos. Sugerir ações que possam reduzir danos ou resolver o problema sem causar novos problemas é interessante quando o interlocutor não conseguiu propor algo que pensa em fazer.
É muito importante considerar os valores do sujeito, bem como energia, tempo e recursos que o mesmo entende que tem. A proposta de ações deve ser feita sempre levando em consideração a perspectiva do outro.
Exemplo não proposital de comportamento não empático:
Uma pessoa que tenha muito medo de ser mal avaliada pela outra, que apresenta, por exemplo, um quadro de ansiedade social. É possível que esta pessoa perceba e entre na “mesma frequência” do sentimento do outro. Entretanto, esta pessoa pode não conseguir expressar o que entendeu, o que pensa a respeito e o que sente porque o medo a faz ficar calada, paralisada ou fugir da situação (de forma reativa).
Texto elaborado pelo psicoterapeuta cognitivo-comportamental e professor:
Dr. Rafael Thomaz (Maio de 2020)
Referências:
Brown, B. (2016). A coragem de ser imperfeito e Mais forte do que nunca. Rio de Janeiro, RJ: Sextante.
Ekman, P.; Szlak, A. (2011). linguagem das emoções. Portugal: Lua de papel.
Goleman, D. (1995). inteligência emocional: a teoria revolucionária que defende o que é ser inteligente. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva.
Harvard Business Review (2019). Empatia - Coleção Inteligência Emocional. Rio de Janeiro, RJ: Sextante.
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