A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem como pressuposto básico a mediação da atividade cognitiva entre situações específicas e respostas comportamentais, emocionais e fisiológicas. Entende-se que essa atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada, podendo gerar mudanças desejadas nessas diferentes repostas. O foco no conteúdo dos pensamentos e na mudança dessas cognições tem sido central na TCC tradicional.
Contudo, terapias contextuais (também chamadas de “terapias de terceira onda”) também têm se mostrado eficazes no tratamento de diversos transtornos psicológicos e possuem como característica em comum o trabalho no processo de aceitação. Neste sentido, o foco passa a ser maior na mudança na relação do cliente com seus pensamentos e menor no seu conteúdo.
Considerando essas diferentes perspectivas, qual estratégia adotar frente a atividade cognitiva do cliente?
A reestruturação cognitiva é uma das principais estratégias utilizadas ao longo do tratamento em TCC. Ela consiste em auxiliar o cliente a identificar possíveis distorções em sua forma de avaliar determinados eventos, geralmente associados à um sofrimento emocional. Com isso, busca-se desenvolver uma maneira mais realista e flexível para enxergar a situação em questão, modificando as cognições para que o comportamento em consequência seja mais funcional. A reestruturação cognitiva comumente é feita através de um processo de registro de pensamentos, descoberta guiada ou questionamento socrático.
A desfusão cognitiva é um dos principais processos no trabalho da aceitação. Ela possui um importante papel na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), que tem um menor enfoque em contestar experiências cognitivas e emocionais. A ACT almeja propiciar uma postura de vida comprometida com valores, apesar da presença de experiências aversivas. A fusão ocorre quando há uma vinculação do indivíduo ao seu pensamento, influenciando significativamente seu comportamento. A desfusão é o distanciamento entre o indivíduo e suas cognições, o que faz com que ele se torne um observador de seus pensamentos, possibilitando uma resposta comportamental menos reativa. Objetiva-se então que o cliente perceba a diferença entre, por exemplo, “Eu sou um fracasso” e “Eu estou tendo um pensamento de que sou um fracasso”. A mudança neste caso não é no conteúdo da cognição, mas na relação com o pensamento.
A atitude de aceitação é tão importante para o tratamento quanto uma atitude de questionamento do pensamento. Além disso, apesar de serem estratégias independentes, elas podem ser complementares. A reestruturação cognitiva pode auxiliar o cliente a ter uma outra perspectiva quanto a uma crença desadaptativa, favorecendo assim o seu distanciamento. Já a desfusão cognitiva pode permitir que o cliente se desvincule de certas crenças, facilitando a consolidação de novas crenças adaptativas. No entanto, a insistência em estratégias de mudanças da cognição pode ser invalidante quando o cliente está de fato vivendo um contexto verdadeiramente aversivo. Do mesmo modo, se o cliente estiver com uma crença ativada e frequentemente distorcer as situações, focar na aceitação poderia reforçar suas crenças desadaptativas. Sendo assim, é fundamental que o terapeuta cognitivo-comportamental seja pautado sempre na conceitualização cognitiva de seu cliente para a tomada de decisão clínica em relação a escolha dessas estratégias.
Por Gabriel Talask: Membro da Equipe FOCO - Instituto Carioca de TCC.
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Dica de material:
MELO, Wilson V. (Org.). A prática das intervenções psicoterápicas: como tratar pacientes na vida real. Sinopsys Editora, 2019
HAYES, Steven C.; HOFMANN, Stefan G. (Ed.). Process-based CBT: The science and core clinical competencies of cognitive behavioral therapy. New Harbinger Publications, 2018.
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